domingo, 9 de janeiro de 2011

Olhares Trágicos II


Eu amo. Não sei se leviano, mas eu amo. O que me basta nessa vida eu já escolhi. E nessa força, quase de auto-ajuda, que me encontro uma força meio sincera. Como foi controlar aquele olhar de milésimos de segundos, eu não sei. Mas ele me falou isso. Sou leviano de olhares e meu coração dói com essa imagem. Quero amar esses olhares. Esse olhar amarelo congelou uma emoção, descongelou meu endereço. Abaixo dele estava outro e outros olhares me fitavam de curiosidade. Esses olhares por um momento me rodearam. Me deixaram fraco por um momento. Mas aquele olhar vampiresco foi único.

A boca na minha memória distorceu, virou só insinuação. Aquilo não foi pra mim. Não entendeu o que ela falou pra ela mesma com aquela imagem torta da boca. A minha vontade era me colocar na frente da paleta, do muro de silêncio daquele momento. Assim descobri que sou viciado em olhares. Um olhar misterioso se coloca como uma dúvida quando se procura um flerte. Eu me apaixono de novo. Com outro olhar simples, eu amo. Com um olhar incisivo calo minha desesperança e coloco em cheque tudo que aprendera até aqui. Controlar os instintos, bater o pé nesse turbilhão de coisas que se coloca em sua memória. Obliqua e dissimulada?

Essa dúvida é a mesma toda hora de quando me disponho a qualquer foco. Lacunas sempre nos deixam nessa ansiosidade ambulante. Mas não, não disponho tudo isso externamente. Isso não é me deixar levar por tudo isso. Essa memória é melhor que droga, me falta ar e essa sensação. A cada dia um olhar me basta, um olhar me cala, um olhar me sobra. Levo tudo isso em ego. E construo essa peça só. Mas esse olhar amarelo nunca sai da minha cabeça.

O olhar dela é mais feliz. Ela olha dizendo exatamente o que sua boca fala. Ela parece passar aquela simplicidade que falta nesse meu olhar cansado. É assim, querendo dizer algo que não sei qual é. Me dá uma calma estranha porque ela não sabe me olhar sem motivo. Ela só sabe me dizer essa coisa. Ela me faz perder o olhar de vista, me faz procurar seu foco. É mais surreal ainda a sensação de leveza que dá a minha parada para ouvir esse flerte. De tudo já tive, mas não tive aquele olhar de cinema. Se despediu na janela sorrindo tanto que não aguentei em deixar de lado um olhar e dispendi um sorriso quanto me foi possível demonstrar.

Seu olhar não foi um parceiro nato. Ele aparecia vez ou outra me deixando tranquilo e essa tranquilidade me deixava de lado vez em sempre. Sem ele, você ficava invisível – e era a intenção – de um jeito que a paciência me pareceu peculiar. A minha paciência. Como eu, um psicopata que prende olhares, podia aguentar esses olhares intermitentes entra meses e meses? Eu gostava.

Um dia, com todos discutindo sobre minha barba rala, ela soutou o olhar que mais marcou em toda a vida. Ele era fixo e pendia entre várias sensações de uma maneira que só ela podia fazer. Ela conseguiu fazer meu olhar fugir descontrolado, deixar de lado meu gostar e me bastar em voltar o foco para ver aquele olhar se misturar com aquele sorriso de lado que não parou de fazer.

Aconteceram várias coisas a seu tempo, por muito tempo. Tentei aprender a lidar com essas questões sem ter que comer pizzas melecadas com maionese. Me declarei como nunca tinha me declarado pra alguém. Percebi que as pessoas demoram muito tempo para valorizarem quem realmente as ama. Eu sou um pouco assim, não nego, mas sei sorrir e atender. Quem sabe não é essa a pessoa que eu estava esperando por toda minha vida? Depois disso não esperava mais nada. O telefone não atendia, as mensagens não eram respondidas, os e-mails ignorados. O que me restava agora? Só me restava esperar um assunto qualquer aparecer na mesa, eu levantar parecendo ser mais alto e distribuir papeis para parecer mais ativo.

Um comentário:

  1. Seu olhar poético apresenta possibilidades que transcender ao niilismo contemporâneo, com um resgate daquilo que talvez possamos chamar de romantismo.
    Escreva para yourself, que estará escrevendo to the world.

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