sábado, 1 de janeiro de 2011

Olhares Trágicos


I


O mundo não explode quando a gente pensa. As mudanças, simples que sejam, não fazem parte da característica da mente. Dizendo propriamente dos velhos fatos: qual a nossa possibilidade real de construir o novo? Nossas limitações não desconstroem já demais nossos passos? Não. Teremos sempre aquelas sensações estranhas de vazio, tão faladas e tão comuns. Criamos com isso a ideia de que não somos nada. Eu normalmente penso que sou nada. O que me deixa livre mais um pouco dessa aflição é quando sento e me coloco no lugar de qualquer pensamento... Sonhar acordado: não há nada melhor para se colocar a cabeça do lugar.

Tento sempre separar as coisas boas da vida e preparar loucuras para o próximo mês. O que não faço demais se não pensar sempre que sou nada ou que posso pensar melhor que qualquer linha “blábláblá” que se fale. Naquele dia, na roda de amigos, me peguei numa dessas discussões internas procurando uma maneira de não explodir como uma bomba no mundo. Tem alguma peça que falta, algum ponto que fica raso com tudo isso. Eu olhava em um ponto fixo e não percebia. Pensava no que me falavam ser besteiras. O que me colocaria no ponto de conseguir alcançar o funcionamento das engrenagens na minha cabeça? Nessa hora não percebo que começo algo que não queria ver.

Seria então uma dança inacabada aquilo? Aquele olhar ao vento me deixando cabisbaixo... não sei, não sei. Por que isso me tira do foco?

Talvez. Coloco-me numa situação complicada sobre esses momentos. Eles sempre me deixam trancado. Eu só estava lá. Aquele ponto fixo começara a criar a esses pensamentos descolados. Sim, eles existiram, apesar de terem quebrado um raciocínio lógico de alguma coisa que nunca mais vou conseguir lembrar. Mesmo assim, continuei me sentindo nada. Um nada. E qualquer coisa que me dissessem não melhorava esse humor rançoso. Esses risos cômicos, rugosos, pairavam no ar pesado que esse lapso me causou. Ar pesado ar.

Respirei fundo e voltei o olhar. Retornei o meu vazio aos olhos e controlei os pulsos. Meu coração parecia catapulta: jorrava olhares ritmados para aquele olho que se jogou em linha reta para meu olho. Imediatamente deixei o olhar baixo, reparando no tremido olhar que se revezava entre minha boca e o foco dos meus olhos. Tremia junto com aquele desfocado ponto. Como se eu tivesse parado e o mundo se mexia de um jeito que me atordoava. Não podia andar, estava acocado e verde. Por onde poderia fugir, não sei. Só estava sentado ali, olhando para baixo e querendo olhar para ela. Mas ela atrapalhava todos meus sonhos momentâneos de construir algum pensamento sem noção.

Nós precisamos descontrolar nossos olhos de novo. Tentei cancelar esses pensamentos, mas não podia desviar o olhar do olhar penetrante em minha boca. Não cansei de pensar que ela não pensaria que eu era um nada. Com a voz estridente e um instinto ululante, fisguei esse olhar tremido para meu olhar e acalmei meu coração naquela cena míope. Meu desejo era seu olhar curioso.

Um momento gritante da carne a todo o momento querendo que pensem que se meche. A vida é assim, obscura. Senti tanto a falta desse sentimento bobo que, quando pude, não soube aproveitá-lo. O conjunto do meu corpo não se controlou: esvaziei meus olhos daquela penúria e o enchi do vento pulsado por aquela emoção.


Um comentário:

  1. Olá!
    agradecendo a visitinha.
    por falar nela, aquele texto é tipo uma conversa imaginaria.rs
    que me dera que aquilo pudesse acontecer de verdade.
    ahhhhh.
    nossa que texto ótimo e adorei a imagem.
    tudo haver.

    beijos

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