terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Olhares Trágicos III


Eu? Não sou uma coisa que se descreva. Minha vida não é tão interessante. Como eu tanto quero, não sou tão inspirador e não deixo transparecer o que realmente posso. O mundo? Ele só quer ver alguém que possa julgar, maltratar, olhar... olhar injusto? … Olhar não me faz tão mal. Eu sempre os espero, e não ficaria surpreso se me deixassem na mão. Personificação de símbolos não é meu forte.
As pessoas vivem falando dos seus problemas, mas nenhum é importante. Coisas pequenas, que não fazem diferença. E porque meus problemas não são importantes? A sociedade individualista está pouco se lixando para isso. Saiba: você não faz diferença. Quando um batom é mais importante que seus devaneios emocionais, conclua que você não é mesmo visível. O jeito é fazer da invisibilidade seu guia. Muitas pessoas queriam estar invisíveis no seu lugar. E não são só os criminosos, mas são também as crianças e adultos de todas as idades, que buscam paz em meio a um turbilhão de olhares que parecem querer te devorar. Devore então livros. Eles são melhores companheiros que esses olhares loucos. O que essas pessoas querem mesmo é atenção. Odeio pessoas que acham que tudo gira ao seu redor.
O sono é bom. Ele te faz enxergar muita coisa. Faz aceitar melhor a invisibilidade. Você só tem força de olhar para frente: a embriaguez de sono te deixa mais ébrio. Criar uma rotina ajuda em toda essa confusão? Me exponho tanto que até rotina é vista é vista como estranha. Você não sente? Essas coisas se respiram e não sou o primeiro nem serei o último a saber dessas coisas. Deixando a página em branco não me permito extrapolar os limites mínimos interpostos pela confusão que é essa estrada. Me encontro talhando memórias, inventando passados. Tudo para minha vida virar seção da tarde e construir virtudes que não me cabem mais. Às vezes é bom se passar pelo que não é, esperando fingir estar apaixonado por um pedaço de papel. Me pego tentando ver um túnel, fitando momentos desalinhados em busca de um livro que já li, de um conto vestido de preto só para o citar parecendo conseguir reler, soprando em palavras quando senti meu braço, jovialmente cansado pelo tempo, desanimei injustamente do que me forneceu estrutura e do que, por um tempo, me forneceu força para continuar escrevendo, um dia me disseram.
Sobreponho-me ao andar ritmado de sempre. Penso sempre que andando assim chego mais rápido em casa. Mas naquele dia a rua parecia esticada, o sol mais forte e os olhos mais ardidos, como se estivesse num deserto úmido e quente com um ar frio e seco embaçando a visão. A minha mente não saia da dela, e os pontos, que em mim sempre formaram momento, se dissolveram no ar como em teoria. Tive a suposição de que não queria voltar para casa. Sentei-me na mesa que vi quando passava num bar e pedi uma Coca-Cola, da mais gelada que tinha.
Toda vez que me revolto com o mundo eu peço uma Coca. Todo dia eu tomo uma. Cerveja é para quando a gente está feliz, quando está tudo bem e não me faz pensar mais nos problemas. Quando a gente está realmente feliz, nenhum alterador de consciência altera o humor que é construído disso tudo. Não, não quero botar mais confusão nesse barulho. O refrigerante desceu, deixando que minha mente conseguisse parar de pensar no mundo, fez com que minha “ela” se focasse no descer daquele gosto inconfundível e estranho: meio ácido, meio gás. Já no ônibus, penso na vida. Construo um conto de fadas para ter o que pensar. Lembrando do dia que, em uma roda com todas as pessoas que eu lembrei existir naquele momento, mas que nem mesmo me conheciam, respondi: “meu nome é, e não deixa de ser, algo que eu não quero me destituir. Parece, mas não é comum."
Eu respiro, com pressa, e o ar entra em colapso com a minha espera ansiosa por isso. Não me convenço de nenhuma outra trajetória, não admito os passos finos com o abrupto peso em meus olhos. Meu olhar turvo não espera ver o concreto afago e aquele frio toma a ansiedade dos olhos. Aperto os passos e o ar violento nos pulmões acelera a mente, tanto querer e vontade quanto o momento devia, e que absurdamente a leveza toma e o olhar fica brando-amarelado com outro toque sutil da curva. Suave a mente espairece. Meu caminho de pedra está salvo diante essa serena base de vida que esse passado corrói em mim. Quem me dera que essa vulto me seguisse até o leme que conduz essa pedra, que enraíza essa coisa, mas que me coloca num altar fictício em busca de um momento em que meus olhos fiquem cinzentos.

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